
Via G1 Grande Minas
Março foi o mês mais trágico da pandemia em Montes Claros. Com base nos dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde, o G1 fez um comparativo do número de casos e mortes em 2020 e 2021. Até esta quarta-feira (31), 26.824 pessoas testaram positivo para a Covid-19 e 568 faleceram.
Esta reportagem está sendo publicada no dia em que a primeira morte por coronavírus ocorreu na cidade. Vítima da doença, Cláudio Manoel Ricardo faleceu em 1º de abril, mas a confirmação da causa do óbito veio em 5 de abril. Esse foi também o primeiro caso oficialmente reconhecido pela Prefeitura.
Segundo familiares, Cláudio tinha viajado para São Paulo e retornou em 16 de março. Na madrugada do dia 17, começou a sentir os primeiros sintomas. O idoso, de 69 anos, precisou ser intubado e não resistiu à doença. O filho afirmou que ele não possuía comorbidades e tinha acabado de fazer um check-up.
Desde o primeiro registro, o número de casos começou a aumentar gradativamente e foi seguindo a mesma lógica do país, com o pico em agosto/setembro de 2020. Nesses dois meses juntos, 6.574 pessoas testaram positivo para a doença em Montes Claros.
Mas março chegou trazendo indícios de que a situação epidemiológica estava piorando. No dia 13, a secretária de Saúde, Dulce Pimenta, chegou a dizer que “se continuarmos com essa velocidade de transmissão, a projeção é termos mais de 5 mil casos só no mês de março.”
O número de infectados foi ainda ainda maior do que o previsto pela secretária, 7.968. Isso significa que, em média, 257 pessoas foram contaminadas a cada dia. Ainda em março, foi registrado o recorde de casos em 24 horas durante toda a pandemia, 561.
Sobre o total de casos confirmados:
- A faixa etária com a maior quantidade é a de 40 a 59 anos, com 8.854
- O Independência é o bairro com o maior número de pessoas infectadas, são 826
- Do total de casos positivos, 1.346 são de profissionais da saúde.
Variante P.1, superlotação e falta de insumos
Ao verificar o aumento expressivo dos pacientes positivos, o município começou a considerar que uma nova cepa estava em circulação. Em 19 de março, Dulce Pimenta confirmou que a variante brasileira P.1, identificada primeiro em Manaus (AM), foi detectada na amostra de um paciente de Montes Claros. O material foi coletado em 4 de fevereiro.
Estudos apontam que a P.1 é mais transmissível por causa mutações que sofre na região em que o vírus usa para infectar as células humanas. Não há comprovação científica de que a variante seja mais letal.
“Uma das características dessa cepa é a alta transmissibilidade. Ela transmite muito mais do que o vírus que tínhamos no ano passado. Uma consequência disso vai ser o número maior de pessoas infectadas se as pessoas não tomarem todas as medidas de prevenção que a gente já conhece.”
Com o número de casos crescendo e o agravamento dos quadros clínicos, houve alta na demanda por leitos de UTI. No mesmo dia em que anunciou a confirmação da variante, Dulce Pimenta também falou que 33 pessoas estavam aguardando por um leito desse tipo. O G1 questionou sobre qual foi o maior número de pacientes nessa fila, mas não teve resposta até o momento.
Referência em leitos para 95 municípios, Montes Claros chegou a suspender a internação de pacientes oriundos de outras localidades. Com a superlotação, os hospitais da cidade precisaram acionar planos de contingência e suspenderam o atendimento de casos suspeitos e confirmados de coronavírus.
Além do problema da superlotação, as autoridades de saúde tiveram que criar estratégias para evitar a falta de oxigênio e para repor os medicamentos do “kit intubação”, que já estavam em falta no hospitais e são indispensáveis para o tratamento de casos mais graves da Covid-19. Sem os remédios, as unidades de saúde afirmaram que seria difícil dar continuidade à prestação do serviço.
Óbitos
E o mês de março trouxe o luto para as famílias de 271 vítimas, a média foi de 8,74 mortes/dia. Para se ter uma ideia do que isso representa, somando todos os outros meses de 2020 e 2021, 297 pessoas não resistiram ao coronavírus. Até então, o maior número de óbitos tinha sido registrado em agosto e setembro, 56 e 55, respectivamente.
Das 568 pessoas que faleceram em um ano:
- 495 tinham comorbidades, sendo cardiopatia, diabetes e hipertensão as mais comuns
- Apesar das mulheres serem maioria no número total de casos, 14.633, são os homens que mais morrem por Covid-19 em Montes Claros, eles representam 59,3% dos óbitos
- A faixa etária acima de 60 anos é a que mais registra mortes, 406
- 19 pessoas morreram em casa, não há informações se elas buscaram ou não por atendimento médico
Em 16 de março, a secretária foi enfática ao dizer que, com a capacidade hospitalar esgotada, “muitos [pacientes] moderados e até graves estão procurando as Unidades Básicas de Saúde”. Não há confirmação de mortes por falta de leitos em Montes Claros.
Restrições e vacinação
Enquanto os números não abaixam, Montes Claros segue com várias restrições. Em 6 de março, o governador de MG anunciou que a região Norte foi inserida na “onda roxa” do Programa Minas Consciente, que regulamenta a flexibilização das atividades no estado durante a pandemia. Com isso, houve o fechamento do comércio não essencial, toque de recolher e restrição de circulação de pessoas.
Antes da decisão do Governo de MG, em 3 de março, a Prefeitura já tinha determinado medidas mais rígidas de enfrentamento à Covid-19, como proibição da venda de bebidas alcoólicas e restrição na circulação de pessoas e veículos. Após ser inserida na fase mais rigorosa do Minas Consciente, o município publicou decretos reforçando as regras.
Se por um lado, março foi o mês mais trágico da pandemia, também trouxe esperança, com a intensificação da vacinação. Após o Ministério da Saúde orientar que todas as doses de vacinas sejam aplicadas, sem necessidade de reservar a segunda dose, o município já está imunizando idosos com mais de 69 anos. Dados do vacinômetro, extraídos nesta quarta, apontam que 30.368 doses foram aplicadas no total.