O preço da tarifa de ônibus em Belo Horizonte deveria ser R$ 6,35. O valor anunciado, nesta sexta-feira (21), foi calculado após a abertura da caixa-preta da BHTrans. O prefeito Alexandre Kalil (PHS) se disse assustado com o valor e afirmou que o preço é inviável, no entanto, não descarta a possibilidade de um reajuste na tarifa no próximo ano.
“Eu esperava abrir uma caixa-preta, mas nós, praticamente, tivemos 400 caixas da BHTrans abertas. Eu estou assustado. Não temos a menor condição em tarifar esses valores”
Os cálculos realizados pela auditoria levaram em consideração a receita, os custos, as áreas de investimento e o lucro das empresas entre 2013 a 2016. Segundo Kalil, a investigação considerou cerca de 104 mil documentos que regem os contratos do transporte na capital.
A autoria durou oito meses e levou em consideração a pedido do vereador Petro Patrus (PT) a análise dos preços, segundo a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). Essa análise traz números entre R$ 5,04 e R$ 5,61.
De acordo com o prefeito, não existe a menor possibilidade da prefeitura subsidiar um possível aumento da tarifa. “Quando você subsidia você escolhe de onde vai tirar. Pode tirar da merenda, da creche, da contratação de médicos. Aqui é um saco só, isso está fora de cogitação”, disse.
Kalil disse ainda que não considera aceitável nem o preço encontrado na auditoria e nem o preço determinado pela Associação Nacional de Transportes Públicos (AnTP)
O último aumento da tarifa foi definido em dezembro de 2016. Um ano depois, as prestadoras do serviço solicitaram à PBH novo reajuste, mas, por ordem do Executivo, o acréscimo ficou condicionado à análise das contas.
Nesta tarde, o prefeito Alexandre Kalil vai se reunir às 14h com representantes do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) para chegar em um acordar após os dados encontrados na auditoria.
Preocupação
O prefeito ainda falou que se preocupará em “negociar alguma coisa razoável” e se mostrou preocupado com possíveis reações a aumentos.
“Está aberta caixa preta, não adianta ir pra internet com movimentos inexpressivos. Temos que cuidar da cidade e parar de colocar fogo em ônibus e negociar alguma coisa razoável. É um assunto sério, não tem que ser tratado com populismo. Não estou aqui para ser miss simpatia”, disse Kalil.
Segunda menor tarifa
O prefeito disse que tem em mãos um documento que leva em consideração todos os aumentos nas tarifas do ônibus para o ano que vem nas principais capitais do país.
Segundo ele, Belo Horizonte tem a segunda menora tarifa, ficando atrás apenas de Vitória, no Espírito Santo.
Abuso
O movimento Tarifa Zero anunciou na última semana que a tarifa de ônibus na capital mineira deveria ser de R$ 3,45. O preço praticado atualmente é de R$4,05. O movimento começou um estudo no início deste ano e chegou à conclusão que, só em 2017, as empresas de ônibus mais de lucraram R$ 179 milhões.
O cálculo realizado pelo grupo levou em consideração a atuação de cobradores de ônibus. Conforme mostrado por O Tempo várias linhas de ônibus tem descumpridor a legislação municipal que obriga a presença do funcionário em certos horários.
De acordo com a BHTrans, as empresas de ônibus devem mais de R$ 5,8 milhões à Prefeitura de Belo Horizonte por infringirem a Lei 10.526/2012, que determina que os veículos não devem transitar sem a presença do cobrador.
No entanto, mesmo após a aplicação de 8.726 multas às empresas, de janeiro a novembro, nenhum centavo foi pago ao Executivo.
O próprio Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) admite o descumprimento da Lei e afirma que todas as 35 empresas têm rombo mensal de cerca de R$ 20 milhões.
Ainda segundo o sindicato, neste ano já foram desligados de 800 a mil cobradores em BH, mas ainda há de 4.500 a 5.000 profissionais, que representam 12% do valor da tarifa de ônibus.