
De risada inconfundível e acolhimento caloroso, Vicente Souza Neto respira a congada. A cultura, tão presente em sua vida pessoal, se estende também ao seu trabalho no Museu da Congada, em São Sebastião do Paraíso (MG), fazendo com que Vicente Irmão, como é conhecido no meio, se torne uma referência na cidade e em diversos outros grupos do país.
Andando pela cidade, Vicente é cumprimentado por todos por onde passa, e de quando em vez, alguém puxa um canto de congada para ver o funcionário público dar alguns passos de Moçambique, movimento onde começou aos cinco anos.
“Isso pra mim é paixão, alegria, fé e amor”, define o congadeiro.
O zelador do museu das congadas na cidade exerce um papel que a Associação dos Congadeiros define como fundamental. Segundo Heraldo Bícego, presidente da organização, Vicente foi escolhido para ser o elo entre o movimento congadeiro e a Igreja Católica. Ele é quem mantém a organização das Congadas em diálogo com a instituição religiosa.

O congadeiro organiza as procissões de abertura e encerramento, ornamentos dos andores, escala para orações, carregamento dos estandartes e matem em paz a relação que em outros lugares não é tão próxima. Segundo o presidente, na última edição das congadas, o público por noite foi de mais de 2,2 mil pessoas.
“Sem a figura do Vicente, as Congadas daqui estariam sob risco de ter conflitos com a Igreja e por consequência perda de público”, afirma Heraldo.
Vicente também faz a catequese de capitães e outros congadeiros, num trabalho de diálogo entre a pregação cristã e o sincretismo natural presente nas congadas. O trabalho aumenta principalmente entre os dias 26 e 31 de dezembro, quando o congadeiro diz que para pouco em casa e dorme cerca de 3h por noite.
“A gente faz com amor e recebe o carinho com amor também”, resume Vicente.
A dedicação do zelador se tornou motivo de orgulho para os congadeiros de São Sebastião do Paraíso, que consideram o Irmão um presente para o movimento..

Congadas no Sul de Minas
Os ternos de congada, como são chamados os grupos, unidos à cultura negra ajudaram a formar a história do Sul de Minas. Segundo historiadores, as irmandades que se formaram ao redor das manifestações negras, entre elas o Congado, além de ser uma forma de expressão cultural e religiosa, exerciam um papel social importante. A força dessas manifestações é o tema da série Congadeiros de Minas, daEPTV Sul de Minas, que vai ao ar entre os dias 18 e 21 de dezembro.
