O número de tentativas de feminicídio com uso de arma branca cresceu 27% no Distrito Federal, em 2022, segundo dados da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). De janeiro a dezembro do ano passado, a corporação contabilizou 42 casos de mulheres feridas por objetos de corte e perfuração. No mesmo período de 2021, ocorreram 33 casos desse tipo.
Em alguns casos, a violência escalou e levou à morte das vítimas. Dos 19 assassinatos de mulheres motivados por questões de gênero registrados em 2022, cinco foram cometidos com armas brancas.
Vítima dessa brutalidade, a filha da técnica de enfermagem Márcia Pereira de Oliveira, 62 anos, não teve outra chance. Priscila Teixeira de Santos, 33, levou uma facada no pescoço e morreu na hora. O caso ocorreu em junho de 2022.
A mãe encontrou o corpo da filha um dia depois no crime, na QNH 13 de Taguatinga Norte, onde a vítima morava com o namorado, Gustavo Brito, preso pelo crime.
“Era uma menina boa, sorridente, alegre e carinhosa. Foi uma morte trágica, fria e cruel. Mataram minha filha e a largaram sangrando no chão, sozinha. Ainda trancaram a casa e o portão, para que ninguém pudesse ajudá-la”, lamenta Márcia.

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Corpo de Priscila Teixeira dos Santos, 33 anos, foi encontrado em casa, em Taguatinga Norte
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Priscila Teixeira
Considerado o principal suspeito de cometer o crime, Gabriel foi preso após o assassinato
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Violência em casa
Consultor na área de segurança pública, Leonardo Sant’Anna afirma que a maior parte das tentativas de feminicídio ocorre em ambiente familiar e residencial. Nesses locais, o autor do crime tem mais facilidade para acessar itens domésticos, como facas e tesouras, e cometer a violência.
“Além disso, as pessoas entendem que é muito mais fácil estar com arma branca e eliminar a possibilidade de serem abordadas por uma instituição de segurança. A percepção que o criminoso tem é de que não será pego, diferentemente [do que poderia ocorrer] se estivesse com uma arma de fogo”, compara o especialista.
No DF, quase metade das armas usadas em feminicídios eram legalizadas
Em relação à prevenção a esse tipo de crime, Leonardo Sant’Anna acredita que o caminho se dá por uma mudança de visão coletiva. “A redução do feminicídio passa por um comportamento social. [O crime] tem a ver com uma ideia de domínio, controle e de que o praticante teria direito de usar a força contra a vítima. Tudo isso tem a ver com um processo muito profundo de reeducação”, avalia.
Violência contra a mulher: identifique e saiba como denunciar

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***Violência contra a mulher
A violência contra a mulher é qualquer ação ou conduta que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico a ela, tanto no âmbito público como no privado
Hugo Barreto/Metrópoles

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Esse tipo de agressão pode ocorrer de diferentes formas: física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral
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***Violência contra a mulher
A violência psicológica caracteriza-se por qualquer conduta que cause dano emocional, como chantagem, insulto ou humilhação
Hugo Barreto/Metrópoles

***violência contra mulher
Já a violência sexual é aquela em que a vítima é obrigada a manter ou presenciar relação sexual não consensual. O impedimento de uso de métodos contraceptivos e imposição de aborto, matrimônio ou prostituição também são violências desse tipo
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A violência patrimonial diz respeito à retenção, subtração, destruição parcial ou total dos bens ou recursos da mulher. Acusação de traição, invasão de propriedade e xingamentos são exemplos de violência moral
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A violência pode ocorrer no âmbito doméstico, familiar e em qualquer relação íntima de afeto. Toda mulher que seja vítima de agressão deve ser protegida pela lei
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***violencia contra a mulher
Segundo a Secretaria da Mulher, a cada 2 segundos uma mulher é vítima de violência no Brasil. A pasta orienta que ameaças, violência, abuso sexual e confinamento devem ser denunciados
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A denúncia de violência contra a mulher pode ser feita pelo 190 da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), na Central de Atendimento da Mulher pelo 180 ou na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), que funciona 24 horas
Rafaela Felicciano/Metrópoles

***Violência contra mulher: denúncia em meios eletrônicos cresceu 16% no DF em 2020
O aplicativo Proteja-se também é um meio de denúncia. Nele, a pessoa poderá ser atendida por meio de um chat ou em libras. É possível incluir fotos e vídeos à denúncia
Marcos Garcia/Arte Metrópoles

***Campanha sinal vermelho
A Campanha Sinal Vermelho é outra forma de denunciar uma situação de violência sem precisar usar palavras. A vítima pode ir a uma farmácia ou supermercado participante da ação e mostrar um X vermelho desenhado em uma das suas mãos ou em um papel
Rafaela Felicciano/Metrópoles

***campanha sinal vermelho
Representantes ou entidades representativas de farmácias, condomínios, supermercados e hotéis em todo DF que quiserem aderir à campanha devem enviar um e-mail para sinalvermelho@mulher.df.gov.br
Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

***CEAM
Os centros especializados de Atendimento às Mulheres (Ceams) oferecem acolhimento e acompanhamento multidisciplinar. Os serviços podem ser solicitados por meio de cadastro no Agenda DF
Agência Brasília

***VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Os núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (Nafavds) oferecem acompanhamento psicossocial às pessoas envolvidas em situação de violência doméstica e familiar. O Nafavd recebe encaminhamentos pela Justiça ou Ministério Público. Os autores de violência podem solicitar atendimento sem encaminhamento
Agência Brasília

***Você Não Está Só
A campanha Mulher, Você não Está Só foi criada para atendimento, acolhimento e proteção às mulheres em situação de violência que pode ter sido consequência, ou simplesmente agravada, pelo isolamento resultante da pandemia. Basta ligar para 61 994-150-635
Hugo Barreto/Metrópoles
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Casos em 2023
Neste ano, o DF registrou seis tentativas de feminicídio com arma branca, segundo o levantamento da PCDF. De janeiro último até esta quarta-feira (8/3), oito mulheres foram mortas por motivos de gênero; em um dos casos, o assassino usou arma branca para cometer o crime.
O feminicídio ocorreu em 13 de fevereiro, quando Simone Sampaio de Melo, 40, levou 17 facadas do ex-companheiro João Alves Catarina Neto, 45, e não resistiu aos ferimentos. A vítima deixou três filhos, de 21, 15 e 9 anos. Ela morava com a mãe e os dois mais novos, no Gama.
Feminicídio: MPDFT denuncia homem que matou ex com 17 facadas
Em dezembro, a vítima havia deixado o município de Piúma (ES), onde morava com o ex-marido. Os dois se separaram após 20 anos de relacionamento, pois João não quis se mudar para o DF com a então companheira. A divergência levou à separação do casal.
O assassino viajou para o Distrito Federal e, no dia do crime, levou a filha para o colégio com a ex-companheira. Na volta para casa, João e Simone discutiram na rua. Em seguida, ele sacou uma faca matou a vítima.
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