São Paulo — O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp) aceitou abrir um processo especial de tombamento do bar Ó do Borogodó, na Vila Madalena, zona oeste da cidade, por entender que o espaço faz parte da cultura da cidade.
É a primeira vez que esse tipo de processo é aceito para preservar um bar.
O Ó do Borogodó existe há 22 anos e funciona no subsolo de uma casa da Rua Horácio Lane que vem recebendo ofertas de compra de grandes construtoras. Caso os proprietários do imóvel concordem com a venda, o bar terá de fechar as portas.
Por isso, os proprietários do bar, músicos e artistas ligados à cultura do samba e do choro vêm tentando enquadrar o espaço como uma Zona Especial de Preservação Cultural — Áreas de Proteção Cultural (Zepec-APC), criada no Plano Diretor da cidade, em 2014, para “tombar” espaços privados não por seu valor para o patrimônio histórico, mas por causa de seu valor para a cultura da cidade.
O Metrópoles mostrou, no mês passado, que uma série de estabelecimentos da cidade que passam por risco parecido ao do bar da Vila Madalena têm procurado a Prefeitura para tentar o enquadramento como Zepec-APC e, assim, evitar serem despejados. Ao menos outros três endereços têm pedidos para abertura de processo de tombamento.
A reunião do Conpresp que deliberou pela aceitação do processo ocorreu no centro da cidade e foi acompanhada por defensores do espaço. Eles haviam feito, entre setembro e outubro, uma campanha nas redes para a preservação do bar.

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O bar Ó do Borogodó, em Pinheiros
Reprodução/Instagram

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O Espaço Itaú de Cinema, na Rua Augusta
Fábio Vieira/Metrópoles

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O Beco do Batman, na Vila Madalena
Fabio Leite/Metrópoles

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O Museu da Casa Brasileira
Dornicke/Wikipedia

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O Clube do Banespa
Reprodução/Instagram

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O campo de várzea do Santa Marina
Reprodução/Instagram

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As escadarias do Petra Belas Artes, na Rua da Consolação
Reprodução/Instagram
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A Comissão Técnica de Análise da Secretaria Municipal de Cultura afirmou, no relatório apresentado para subsidiar a reunião do Conpresp, que uma série de motivos relacionados às dinâmicas de mercado podem fazer um bar fechar.
Entretanto, “no caso do Ó do Borogodó, vemos que não há motivação interna à dinâmica do próprio estabelecimento que o leve a sair dali, senão uma forte pressão externa causada pelo mercado imobiliário”, afirma o documento.
O Ó do Borogodó é o primeiro bar que tem um processo de tombamento cultural aceito pelo Conpresp. Em outros casos, para o tombamento de um clube e um cinema de rua, a abertura por si já congelou os usos daqueles espaços, impedindo a demolição deles até o término do processo.
Contudo, a decisão tomada pelo Conpresp na reunião de segunda-feira só deve ser publicado na íntegra na próxima sexta-feira (17/11). Até lá, os apoiadores do espaço ainda não têm certeza de que o congelamento já está valendo.