Secretário de Nunes vê centro seguro: “Caminho falando no celular”

0

São Paulo – Secretário municipal da Casa Civil, Fabricio Cobra tem a missão de coordenar as ações para recuperar o centro da capital paulista, uma das principais apostas do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para faturar as eleições do próximo ano.

O secretário recebeu o Metrópoles no seu gabinete, instalado no nono andar do prédio da Prefeitura, no centro da capital paulista, na tarde de sexta-feira (10/11). Na pauta, estava a luta contra o relógio para entregar o pacote de revitalização, o Todos Pelo Centro, que inclui reformar prédios degradados, o chamado retrofit, além de construir novas habitações e atrair setores econômicos para movimentar a área.

Em tom otimista, Fabricio Cobra refuta a visão de que os problemas com a Cracolândia podem afugentar os investidores e diz até que se sente seguro de andar pelas ruas do centro da cidade – onde só neste ano foram registrados 19.202 assaltos, ou três roubos a cada hora.

“A realidade mudou nos últimos meses. É visível. Basta pegar a [Praça do] Patriarca e ir até a Sé: você vê viatura, a guarda civil presente, mais policiais nas ruas”, afirma Fabricio Cobra. “Hoje mesmo, eu vim [caminhando] de um evento na Boa Vista, falando no celular. Cruzei com umas três viaturas de polícia.”

Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida pelo secretário Fabricio Cobra ao Metrópoles:

Uma das vitrines do prefeito, o novo programa de retrofit (requalificação de prédios antigos do centro) aprovou 14 projetos neste ano. Isso dá cerca de 1,2 mil moradias. Nesse ritmo, a meta de atrair 220 mil novos moradores…

[Interrompendo] A meta não é só para o retrofit. Esses 220 mil novos moradores estão na conta do PIU Central, que são as novas construções, pelos próximos 10 anos, em toda a área do centro. Não é só na Sé ou na República: entra o Brás, o Bom Retiro, Santa Cecília. Há todo aquele arco norte que também vai ter construção para atrair novos moradores. O retrofit tem um público específico, os prédios que já estão construídos. Os projetos são muito complexos, cada prédio tem uma história e requer análise específica.

Quantos prédios serão requalificados no centro até o fim da gestão?

A ideia é que a gente mantenha esse ritmo e que os projetos sejam impulsionados pela subvenção [programa da Prefeitura que reservou R$ 1 bilhão dos cofres públicos para construtoras reformarem edifícios antigos]. Alguns prédios vão utilizar só os benefícios do retrofit [isenção fiscal] e outros vão utilizar os da subvenção. A gente vai encaminhando. Algumas regiões já começaram a atrair mais interesse. Na Vila Buarque, por exemplo, pessoas do mercado têm falado que o projeto “já pegou”.

Por que “pegou” na Vila Buarque?

A cena gastronômica é muito forte, há restaurantes, o Copan e também todo um movimento que vem da região de Santa Cecília. Quem mora em São Paulo há mais tempo sabe como era a [Rua] Major Sertório na década de 1990. Na esquina com a Bento Freitas, agora existem três prédios novos, oito retrofits e uma cena gastronômica pujante. O perfil está mudando. A própria Rua Augusta, vindo da Paulista para o centro, passou por uma transformação habitacional, com empreendimentos significativos. O que a gente escuta é que há uma procura grande, como um todo.


0

Quais outras ações do pacote de revitalização estão para sair?

A ideia, desde o início, é não existir um público específico: o centro não é para ter uma camada social, é para ter todas. Estamos fazendo o mapeamento dos imóveis que pertencem ao município, ao estado e à união, para saber o que é possível converter em habitação de interesse social. Também vamos votar [na Câmara de Vereadores] a Lei do Triângulo SP [pacote de benefícios voltado para comércios] até o fim do mês, o que vai trazer incentivos para o centro velho e para o quadrilátero da República. Há um estudo sendo feito para saber quais são os setores mais interessantes para ocupar os prédios e atrair movimento.

A ideia é criar isenções específicas?

Sim, estamos analisando a possibilidade de isenções de ISS por atividades fim.

Dá para discutir esses assuntos com a reforma tributária na porta?

Dá, dá. Acho que, efetivamente, a reforma tributária não vai ser imediata. A Prefeitura até fez recentemente um projeto de lei que reduziu o ISS de algumas atividades na cidade. Existe a possibilidade de fazer a mesma coisa especificamente para a região central, com algumas contrapartidas, como funcionamento noturno ou no fim de semana.

Quais atividades seriam isentas?

O estudo está levantando os setores. As universidades, por exemplo, já pagam a menor alíquota, mas você pode achar outros incentivos para trazer mais salas de aula presenciais. Isso gera movimentação de alimento, comida, bares… A aula vai até mais tarde, então cria movimento na região. Temos conversado com o setor de telemarketing também. São Paulo perdeu algumas empresas, inclusive para outros estados. É uma área que traz muita gente.

Falta menos de um ano para a eleição. A Prefeitura vai conseguir entregar um centro revitalizado até o fim da gestão?

O centro gradativamente está melhorando e vai melhorar cada vez mais. O centro sofreu durante décadas, é um processo. Na década de 1980, eu vinha para cá porque minha mãe tinha um escritório na rua Benjamin Constant e o meu pai trabalhava no Banespa. Era um centro [de verdade]. Acontece que a cidade, através das operações urbanas, levou o setor econômico para outras regiões – a Faria Lima, a Água Espraiada, a própria Paulista. E está na hora de a cidade contribuir para que as atividades voltem. A mudança já é visível na questão de segurança, limpeza, iluminação. A Operação Delegada [pagamento para que PMs trabalhem em dias de folga], que a Prefeitura faz a parte financeira, as vagas subiram de 300 para 1,5 mil. A adesão é de quase 98%. Você anda no centro de forma mais tranquila hoje.

O centro de São Paulo sempre teve o metro quadrado mais policiado da cidade. Será que a presença policial reflete tanto assim na sensação de segurança das pessoas?

Ah, reflete sim.

Uma pesquisa do instituto Orbis, feita em abril, mostra que 39% dos moradores dão nota zero para a segurança da cidade. No centro, que sempre foi muito policiado, a média é nota 2,8. As pessoas não se sentem seguras.

A realidade mudou nos últimos meses. É visível. Basta pegar a [Praça do] Patriarca e ir até a Sé: você vê viatura, a guarda civil presente, mais policiais nas ruas. A Prefeitura reestruturou toda a carreira da Guarda Civil Metropolitana. O salário inicial subiu de R$ 2,1 mil para quase R$ 4 mil. A gratificação especial, que era R$ 150, foi para 1,5 mil. O vale-alimentação era R$ 300. Hoje, é R$ 700. Isso muda muito, impacta o dia a dia do funcionário. Foram investimentos efetivos que estão gerando mudanças. É só você caminhar no centro.

O senhor se sente seguro de caminhar no centro com o celular na mão?

Eu me sinto. [Eu] caminho. Hoje mesmo, eu vim de um evento na Boa Vista [no centro histórico], falando no celular. Cruzei com umas três viaturas de polícia.


0

Na Cracolândia, temos visto com frequência operações policiais, que é uma atribuição do governo do estado, e o resultado tem sido o “fluxo” migrar de um lado para o outro. Como isso impacta na questão da revitalização?

O secretário [de Projetos Especiais, Edsom] Ortega que cuida do programa Redenção e está mais em contato com o estado. A política do prefeito Ricardo Nunes é oferecer tratamento de saúde para os usuários, que já foram 4 mil e hoje são mil pessoas na região, e combater o traficante que, de certa forma, usa o usuário como escudo para fazer a comercialização. Dessas mil pessoas, a grande maioria está lá há mais de cinco anos. O dia a dia da política, especificamente, quem comanda é o secretário Ortega. Eu estou na qualificação urbana.

Só neste ano, a Cracolândia já foi parar na Marginal Tietê, migrou para o Bom Retiro e estava, nesta semana, perto da Estação da Luz. Algum investidor já perguntou ao senhor se há risco de ele reformar um prédio no centro e, de repente, acordar com a Cracolândia na porta?

Não, eu escuto muita coisa positiva. O centro virou uma referência. As pessoas querem ir para o centro. Não vejo isso como um problema, pelo contrário. Há fundos investindo na compra de prédios e na aquisição de espaços que ainda podem ser verticalizados.

Quando o senhor se comunica com associações de moradores, essa questão da segurança aparece muito?

Os moradores do centro falam muito. Hoje, se fala muito de segurança no país inteiro. A gente tem aproximado o diálogo e ouvido o que eles entendem como melhorias para o centro. Em um município de 100 mil habitantes no interior, o prefeito consegue ter proximidade. Ele sabe o que está acontecendo e a população também sabe o que o prefeito está fazendo. Em uma cidade como São Paulo, com 12 milhões de pessoas, a comunicação é um desafio: você não consegue dialogar com 12 milhões de pessoas. Por isso, os fóruns são importantes para aproximar as políticas públicas daquilo que a sociedade civil pensa.